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sexta-feira, maio 07, 2010

O abismo negro do teu abraço vazio


Deito o corpo nu, despojado de ti.
Guardo o teu sabor nos lábios, nas mãos,
na ânsia soluçante do meu coração.
Existem em ti poemas, letras, palavras
que eu não posso ler.
Escondes segredos e sentimentos que não
espelhas no silêncio da minha alma.

Falta-te a intimidade, dizes-me tu,
Enquanto fodes alguém na ausência do meu
Olhar, na ausência das mãos que te prendem
O corpo e a alma, na prisão que é o meu ventre
E o teu passado, a imensidão omnipresente de todas
As palavras que proferiste e me ensinaste a amar
Ao longo dos anos em que lancei o meu destino
A teus pés. Falta-te a intimidade para que ela
Te percorra as cicatrizes como te percorre
O escroto, como te engole o esperma e te fode
A esperança de amar um dia, de amar como pensas e
Acreditas que jamais amarás, a crença que o amor é algo
Que escondeste de ti mesmo quando a outra partiu
E te abandonou numa escada com as lágrimas nos bolsos
E uma faca na mão com que arrancas os olhos todas as noites.
Portanto, falta-te a intimidade e eu pergunto-me como podes foder
Alguém que não permites que te veja e te sinta e te percorra
As cicatrizes e o frágil da tua pele, que não permites
Que te percorra as tatuagens amargas
Com que pintas o branco do teu silêncio pesado.
Pesas-me, pesa-me a imagem do teu corpo em cima
De alguém, enquanto arfas e ela se espreme contra ti
Num movimento canino, num movimento que rasga a minha
Psique, porque não quero EU NÃO QUERO VER-TE NA MINHA MENTE
A foder alguém, eu não quero o teu cheiro na minha pele
E na minha roupa, não quero o teu coração na minha mão,
Não quero as tuas cicatrizes nas minhas memórias, não
Quero que estejas mais aqui, a foder pessoas que não conheço.
Abandona-me finalmente, deixa-me neste mar que é meu,
De que tenho medo, deixa-me junto do medo e do pavor de não
Saber mais ninguém que não tu, deixa-me junto da certeza que
Te amo e não amarei mais ninguém na minha vida enquanto
Respirares no meu pescoço. Parte. Porque preciso que partas,
Que inflijas um golpe misericordioso na linha que une os nossos
Umbigos e que abraces o destino que te impele para a frente,
Para o abismo negro que é o teu abraço vazio.
Nunca mais, nunca mais, nunca mais me digas que te falta a intimidade.
Nunca mais.